A crítica e o meu direito de ler.


A primeira vez que li Crime e Castigo, o que mais me impressionou foram as descrições ambientais do autor. Por ora, não havia mergulhado no labirinto de interpretações pessoais pregado na obra. Ainda assim, isso não pôde passar despercebido.
A semelhança machadiana, comparação minha por que sou brasileiro, foi inevitável. Minutos de pura tensão me prenderam a obra que retrata uma angústia sem fim. A dor da necessidade em colapso com a moral, que condena Ródia por um crime ainda não cometido, estabelece o alicerce maleável dessa introdução. Essa ansiedade pela punição mundana, que não tardaria, consome o protagonista de maneira tão envolvente em seu intelecto orgânico que acaba por incapacitá-lo para análises e ações básicas do cotidiano. O encontro com uma prostituta, dona de um controle sob seus atos muito superior a pobre tentativa de Ródia em se manter sóbrio, fez com que questionássemos princípios de ordem e civilidade há tempos definidos, na sociedade moderna, com afirmações empíricas e paradigmáticas.
Bem essas foram minhas primeiras percepções sobre Fiódor Mikhailovich Dostoiévski, e por um tempo, acompanhando O jogador e O idiota, estiveram vivas em minha mente. Mas foi com Os irmãos Karamazovi que esse ícone da literatura russa mais me surpreendeu. Nessa obra não havia cavalos torturados em praça pública, nem crianças mendigando sobre a pressão de uma mãe louca, não havia confrontos hierárquicos de uma corte decadente com uma burguesia emergente; mas havia outros conflitos que mais uma vez superam as expectativas adjacentes de quem leu seus primeiros trabalhos. Havia, naquele livro que eu acabara de descobrir aos dezesseis anos, uma série, quase que infinita de quebrantos sobre formas nem sempre re-construtivas de conceitos naturais da sociedade a qual me insiro.
Os episódios mais marcantes desta novela eu poderia assinalar da seguinte maneira: O Homem humilhado até o extremo de sua insignificância, a vingança de uma criança contra o abade, um baú de sabedoria emitindo um odor póstumo que o aproximou de uma carniça, um parricídio, um louco, um ateu suicida e um padre não que crê em Deus. Não sei dizer o que mais me impressionou, mas posso afirmar o  porquê de todos esses pontos serem marcantes na obra...
... Estamos falando de um criador que revolucionou o realismo e faz das características de uma sociedade em ascensão uma gigantesca caricatura da decadência humana. Os críticos analisam a obra de Dostoiévski sobre o prisma de um autor que sofria inúmeros problemas de ordem familiar, financeira e pessoal. Eu , como um simples leitor, deleito-me sobre a obra de Dostoievsky fundamentado na minha paixão pela literatura que pode ser ou não objeto de análise. O que diferencia o autor do crítico, é que o autor produz e o crítico observa o que já está pronto. Por isso, os séculos passarão, e o Jovem  Moscovo será lembrado pelo que criou em seus 59 anos de existência, enquanto Grigory Vinokur e seus amigos, hoje, quase ninguém os conhece.
Não sou critico, sou leitor. O trabalho dos critícos de literatura, assim como de outras artes, em alguns casos, é extremamente dispensável, principalmente quando consideram as linhas de pensamento que suas entidades exigem, fechando-se para a pluralidade de reflexões e interpretações que uma boa obra nos oferece.
Dostoiévski nos ensinou que por detrás de toda muralha há uma estrutura e que por mais sólida que esta estrutura pareça aos nossos olhos, sempre existe uma leve rachadura ou oxidação passível de, sob a brisa da inconsistência existencial, ruir com toda a aparência.

Seguem minhas sugestões de leitura neste mês de Julho.

•O Idiota
•Crime e Castigo
•Os Irmãos Karamazovi
•O Jogador
•Os Demônios

Todos de Dostoiévski que sugiro como leitura, entretenimento e principalmente para agregar conhecimentos.

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