Serafim...será...o..fim?

Uma breve observação sobre a obra Serafim Ponte Grande de Oswald de Andrade



A prosa fragmentada de Oswald vai além da influência cubista em
sua obra. Em Serafim Ponte Grande (1933), no meu entender, ela reforça a própria desconstrução do indivíduo diante da realidade em cacos. A São Paulo de Serafim não se encaixa em sua melopeia do século XIX. Nada mais existe. Nem a cidade que fora símbolo do desenvolvimento do país no ínicio do século, nem o indivíduo burguês tradicional do segundo império, restam apenas os vestígios desses tempos incrustados na epiderme da classe por maquilagens mal-acabadas e melancólicas. Serafim vive a intensidade de sua juventude em atrito com os valores caretas de uma sociedade extremamente hipócrita e arredia aos seus atos.E quanto aos revolucionários? Serafim vai traí-los. Sentimos isso na pele, recentemente, quando fomos traídos por aqueles que acreditamos (qualquer semelhança com o atual governo não é mera coincidência) No entanto, o tempo, sempre ele, acaba por adequar as "bizarrices" na normalidade, e se sua epopeia se desse nos tempos atuais, o excêntrico Serafim Ponte Grande seria adjetivado como um grande "careta". 
Enfim, definições e valores que se renovam (refazenda) na cíclica história de nossas tragédias. 

O grande "não-livro", como afirmou Haroldo de Campos, é o auge da produção de Oswald. Confecção cara do espírito atropofágico, aglutinação de gêneros e radicalização da proposta ficcional e das estruturas do romance. A justaposição dos estilos tece uma colcha de retalhos aquecida e efervescente, ao tempo em que esfria toda a expectativa de certos leitores, acostumados com as marcas retilíneas das tradicionais narrativas.


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