Homem que amava os cachorros - bom, sem Réquiem.

O livro descreve, em detalhes, três perspectivas interessantes sobre a barbárie stalinista e a adesão dos "comunistas" ingênuos que defenderam o czar vermelho até o fim. A perspectiva de Trotsky, da resistência e da luta pelo ideal socialista-marxista não contaminado pela ambição do ditador do Kremlin; a perspectiva de Ramon Mercader, alienado pela ambição de se tornar um grande herói do regime soviético, contrariando sua própria natureza comunista que o enraivecia com o abandono da URSS para com sua famigerada Espanha; e, por fim, a de Ivan, narrador cubano, que faz uma leitura crítica dos desmandos de Stálin e da aproximação, no modus operandis, do ditador soviético com o nazismo alemão. Um livro que vale muito a pena pelo olhar histórico, pela narrativa muito bem construída; mas, principalmente, pelo senso crítico que o romance instiga em seus leitores a cada capítulo. Uma história onde a verdade é clara: A
revolução da classe operária chega ao fim com a morte de Lênin, na URSS.
No geral a obra atende ao propósito de revisitar a história, de forma romanciada, sob diversos olhares; no entanto, o último capítulo, intitulado Réquiem, pareceu-me bastante desnecessário, já que ele desconstrói a importância histórica dos fatos decorridos e supõe que a não existência da prática socialista poderia ter evitado os transtornos oriundos dos desvios. Nesse sentido, Daniel (o personagem) não reconhece a vitalidade da revisitação histórica de aprendizado, e valoriza uma fictícia crença de que o mundo, talvez, seria melhor sem o que ele chama de tragédia dialética. Como se fosse simples, confortável e mais humano a barbárie capitalista, não abordada no livro, por questões óbvias, mas esquecida na penumbra de um olhar parcial que discursa na missa de sepultamento do socialismo. Sem ele, essa conclusão ficaria a cargo do leitor que, a meu ver, teria mais liberdade para escolher. Assim, o capítulo Réquiem é extremamente panfletário e, por sua natureza, desnecessário a uma obra tão interessante quanto provocadora. 

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