As ruas de
minha antiga cidade sempre despertaram diversas sensações nos seus moradores
mais antigos. Uns entoavam cantos as suas nostálgicas infâncias, outros
preferiam contemplar o passado em silêncio e veneração, havia até aqueles que
jamais confessaram seus devaneios e, numa redoma solitária, guardavam o tesouro
de suas memórias. Eu, que desde criança caminhei por esses ladrilhos, jamais
imaginei que faria parte do grupo de pessoas que lamentavam os tempos idos. Não
porque meu presente pouco se assemelha àquele lugar seguro; mas, prefiro crer,
que seja uma jornada insípida, delicada e sem volta.
Meu passado, incrustrado
nas lajotas dessas ruas, ressoam o que de melhor eu deixei na vida. Tais ecos
não surgem nos atos, nem mesmo nas relações, mas sim nas experiências que vivi.
Cada rua
deserta, cada asfalto rachado testemunhou as noites gatunas que experimentei na
adolescência. Cada neon ofuscado, cada poste ensebado pela cola dos
lambe-lambes são testemunhas de um "eu" que não se perdeu no
presente, apenas se apagou ante as aparências de um homem responsável, cuja
finalidade é ilustrar uma sociedade esvaziada de sensações e embalsamada em
suas hipócritas leis.
Ari Mascarenhas
Foto: (http://www.rmgouvealeiloes.com.br/catalogo)
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