Não dava pra ouvir

O político no estúdio
dissertava
autoritário
o seu quieto discurso
mudo
entre os vidros de um aquário.


O político no rádio
descrevia
temerário
o seu certo percurso
torto
entre as fichas de um fichário.

Cada ficha
era a escama
de um peixe
imaginário.
Cada frase
(barbatana)
era um feixe
de membranas,
surdo vocabulário
na garganta atravessado.

O politico se agitava
cada ficha soletrada
era a página
de outra folha já virada;
era a lâmina cortada
de um lacrado dicionário;
era o sono radiofônico
de outros peixes
nas águas de outro aquário.

O que o político explicava
em seus silêncios de nada
não chegava
aos ouvidos de quem ouvindo
não ouvia sua palavra.


Mário Chamie

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Para fazer seu comentário, por gentileza, deixe seu nome seu e-mail. Dê sua opinião sobre os temas e, ou, o blog. Muito Obrigado!