Seja Marginal, seja herói. ( uma homenagem ao Chacal)

Seja Marginal, seja herói
bem cantou Chacal
pra mim e pra nóis
o mito da letra imoral,

sobre a força do pavor
que assombra o sistema
o meu canto é encanto
que ameniza o problema

sofro calmo nos versos
calmo canto nas trevas
de jaqueta no vale das letras
de manso, chega, grita e leva.

meu poema não é só discurso
que bate e ecoa no coração
é  recado de humildade em curso
pra toca na alma de cada irmão.

Sou daqui da sul,
sou de qualquer lugar
onde houver oprimido
instalarei meu lar,

porque sou o arauto da miséria
não por opção,
mas por ver tantas idas e vindas
sem resolução.

escrevo com o impulso do pensamento
descrevendo as mazelas do meu sentimento
nesses tempo em que cada um diz o que pensa
minhas palavras vão soar como ofensa

mas não se intimide diante da realidade
minha verborragia emana verdade.
o projeto aqui é pra conscientizar, não é pra rir

mas se sentir vontade, pode aplaudir.

Ari Mascarenhas ( 08/2014)

No café


UM TUCANO

Numa alvorada incerta,
um tucano de asas claras
riscou meu amanhecer.

Levantei-me apressado e furioso
com a ave que agredia meus sonhos;
solavancos sonoros dispersos.

Quando cheguei ao quintal,
deparei-me com um gemido
solene e sombrio.

Uma alma empenada,
de bico baixo e curvado,
pousara em meu varal.

Depois do breve susto,
e de recompor  a firmeza
de minhas pernas vacilantes,
achei que o ouvi soltar
cantigas de povos distantes;
de almas antigas.

Com o abrir do grande bico
entoava um lirismo familiar.
Uma súplica de meu íntimo,
vozes humanas de uma Itapecerica,
que eu, filho da terra, desconhecia.

Vozes de avós.

Reparei em seu olhar de escanteio,
refletindo um brilho glorioso,
pelo sucesso em me acordar.

“Maldita galinha preta e bicuda!”
Esbravejei acompanhado de algo qualquer
que lancei em sua direção.

Esquivou-se de minha cólera,
Com certa tristeza expressa,
fitou-me brevemente,
abriu uma grande capa
e lançou-se ao vento,
para longe de meu olhar atônito.

Anos depois compreendi
aquela visita matinal.
Eram tempos em que uma mata viva
enviava mensageiros nas
molduras de minhas manhãs.

Ele veio se despedir
e junto foi embora também
o mata borrão verde
que via de minha janela.

Para onde foram?
Não sei, mas creio que à praia.
Já que em seu lugar,
nasceu uma enorme anaconda
de concreto e asfalto.

Ari Mascarenhas

Um apólogo - Um brevíssimo olhar

Um apólogo - Machado de Assis ( clique nesse título para ouvir o conto)


O autor, ao narrar uma contenda entre uma linha e uma agulha ( clique no título para ouvir o conto), reforça as relações entre classes cosidas no pano da realidade. O esforço da agulha, que a seu ver não é reconhecido como esperara, é responsável pelo sucesso da linha. A matriz de forças que se estabelece na discussão apresentada no texto, desvela objetivos individuais responsável pelo afastamento de uma luta unida e focada no interesse comum. Pode-se perceber esse distanciamento no nas opiniões das personagens que, por sua vez, encontram ecos nos discursos superficiais e inférteis que justificam o prazer como sinônimo de sucesso. E para aquele que não encontra seu lugar nos “espaços” nobres, como convinha desejar a nova classe dominante, está fadado ao fracasso. Ainda que o conceito de fracasso seja meramente uma exclusão por forças de modismos e valorização de superficialidades, como por exemplo, um baile de luxo.

A agulha, soberba no início, sucumbe em sua condição natural e, ainda como forma de punição, ouve o discurso moralizante do alfinete.
A moral da história, retratada no fim do conto, dá-se pela constatação de que a união das classes, ou a ausência delas (as classes), revelaria uma força cooperativa tão, ou mais, eficiente que o modelo exploratório existente; e que a harmonia entre as diferenças é a única forma de encontrarmos no equilíbrio do trabalho a libertação dos seres, “bailando num belo rodado de um vestido de baile”. Ou seja, apenas essa harmonização, ainda que utópica, pode nos oferecer motivos verdadeiros para que possamos nos orgulhar.
Um mundo onde o meu sucesso seja fruto do sucesso alheio. Onde a sociedade possa brilhar tão forte que ninguém se preocupará em iluminar obscuridades existenciais com seu pequeno e inócuo feixe de luz. 

Soneto do credo amoroso

Era para se crer no amor real,
se real fosse não carecia de crer.
Um amor que não se viva por igual,
do pôr-do-sol ao rubro amanhecer.

No amor que se esvai na juventude,
ou que não se fortifica na convivência.
Naquele “na doença e na saúde”,
ou na pura paixão e na indecência.


Crer no amor que se vive,
ou recordar do “bom” que se viveu,
é a lufada de ar fresco que tive.

Pois ao sonhador que não se perdeu,
ou quem nada em seu peito reprime,
o Amor é o encanto que o medo venceu.

Violeta Pandolfi

Soneto de Aproximação

Em um sítio de constante lavor,
onde forma a opressão operária,
desce, incandescente, o lívido amor!
Feixe leve, que sob a brisa se espalha.

Iluminado, envolvido, agora fico,
e pouco vejo, além de seu olhar.
Nas dependências físicas onde existo,
sinto meu corpo, levemente, levitar.

E, com calma, posto-me de aproximado.
Ante o espanto que me deixara alerta,
dirijo-me à musa com desejo e cuidado.

Precavi-me, não convencido de decisão certa
Mais por medo de por ti ser machucado
Por seu envolto perfume e encanto de Roberta.


Ari Mascarenhas

NÓS MATÁMOS O CÃO TINHOSO - Texto na íntegra


NÓS MATÁMOS O CÃO TINHOSO

Conto de  LUÍS BERNARDO HONWANA

O Cão-Tinhoso tinha uns olhos azuis... 

O Cão-Tinhoso tinha uns olhos azuis que não tinham brilho nenhum, mas eram enormes e estavam sempre cheios de lágrimas, que lhe escorriam pelo focinho. Metiam medo aqueles olhos, assim tão grandes, a olhar como uma pessoa a pedir qualquer coisa sem querer dizer. 

Eu via todos os dias o Cão-Tinhoso a andar pela sombra do muro em volta do pátio da Escola, a ir para o canto das camas de poeira das galinhas do Senhor Professor. As galinhas nem fugiam, porque ele não se metia com elas, sempre a andar devagar, à procura de uma cama de poeira que não estivesse ocupada. 


QUER LER O TEXTO NA ÍNTEGRA? ENTÃO ACESSE, NO MENU SUPERIOR DESSE BLOG, A PÁGINA DEDICADA À OBRA. 

BOA LEITURA!