São Paulo

 

São Paulo, cidade de imensidão urbana,

Vertigem de concreto, pulsante e voraz,

Onde o céu se encontra com a selva humana,

Nos arranha-céus que tocam o céu audaz.

 

Nas esquinas, o caos ecoa como canto,

O trânsito tece sua teia de aço,

Na miscelânea, um mosaico encanto,

Culturas se abraçam num só compasso.

 

Nas ladeiras da Serra, o sol se deita,

Reflete-se nos vidros dos arranha-céus,

No contraste entre a grandeza e a estreita,

São Paulo respira histórias, mil e mil breus.

 

A Avenida Paulista, símbolo da cidade,

Pulsa arte, negócios, diversidade em sinfonia,

Ponto de encontro, de amor e saudade,

No coração da metrópole em euforia.

 

A cada esquina, um poema inacabado,

Entre vales, morros, bairros tão diversos,

São Paulo, gigante, imenso legado,

De sonhos, de lutas, de risos, de versos.

 

Assim, entre concreto, verde e história,

São Paulo, imponente, segue seu destino,

Na alma daqueles que, em sua trajetória,

Carregam no peito o amor genuíno.


14.12.2023

Notas de leitura sobre a trilogia “Elétrico” de Eduardo Ferrari

 




Acabo de ler a trilogia de Eduardo Ferrari acerca das deliciosas crônicas sobre a vida de um menino (Bernardo) com TDAH – Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade. Sigla complicada que, para o protagonista Bernardo, só pode ter sido criada por alguém “desatento. Ou hiperativo. Ou inquieto. Ou impulsivo”.  Os livros acompanham o desenvolvimento de uma criança “elétrica”, por vezes “distraída”, por vezes “falante” em suas relações familiares, escolares, sociais e individuais; seus questionamentos, suas brincadeiras, suas descobertas e, principalmente, suas construções de significado, sensivelmente, observadas pelo pai-narrador que mescla seus próprios aprendizados com as evoluções do protagonista.

Conhecia muito pouco a respeito do tema, mas o livro me instigou a procurar mais sobre o  Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) que  afeta entre 3% e 5% das crianças em idade escolar, sendo mais prevalente entre meninos. A leitura dos contos permite observar que uma das principais características do TDAH é a  dificuldade em manter o foco nas atividades propostas e agitação motora. Este distúrbio neurobiológico crônico, marcado por desatenção, hiperatividade e impulsividade, tipicamente se manifesta na infância, mas pode persistir ao longo da vida sem tratamento adequado. Além disso, como acontece na trilogia,  esse transtorno pode impactar o desempenho acadêmico, resultando em rótulos injustos que não refletem o potencial dessas crianças no âmbito psicopedagógico. O TDAH não é um fenômeno recente, sendo descrito já no século 19, e sua incidência é uniforme em todo o mundo. Segundo o DSM-IV, pode ser categorizado em três tipos principais: predominância de sintomas de desatenção, de hiperatividade/impulsividade ou uma combinação dos dois.




A trilogia nos ensina a entender um pouco mais os sintomas do TDAH, como desatenção, hiperatividade e impulsividade, e reduzir assim o impacto negativo nas interações sociais, na vida familiar e no desempenho acadêmico ou profissional das pessoas afetadas. Esses sintomas podem variar em intensidade e comprometimento. Na presença predominante de desatenção, indivíduos enfrentam dificuldade em se concentrar, organizar suas atividades e seguir instruções, podendo pular de uma tarefa para outra sem concluí-las, como acontece com o protagonista em diversas narrativas dentro da coletânea. Distraem-se facilmente, esquecem compromissos ou onde colocaram seus pertences, têm dificuldade em prestar atenção a detalhes e cometem erros por falta de cuidado, prejudicando o aprendizado e o trabalho.

Aprendemos com o protagonista, e o olhar atento do pai, que  na hiperatividade, as pessoas tendem a ser inquietas, agitadas e falam excessivamente. É difícil para elas se envolver em atividades tranquilas ou manterem-se em silêncio durante brincadeiras ou trabalhos. Quando a impulsividade é proeminente, são impacientes, agem sem pensar, têm dificuldade em ouvir até o final, falam precipitadamente e se intrometem em assuntos alheios.

Embora na adolescência e fase adulta os sinais de hiperatividade possam diminuir, outras dificuldades persistem e os impactos negativos no dia a dia se acumulam, afetando a autoestima das pessoas afetadas.

No último livro da trilogia, “Falante”, o personagem “Bernardo” transfere-se para o narrador, oferecendo ao leitor a perspectiva do jovem com TDAH. Nessa belíssima experiência, podemos acompanhar a perspectiva do adolescente em diversas situações, com destaque para sua visão acerca da pandemia de Covid-19. Enquanto o mundo lamentava o isolamento e sofria com as ausências que essa tragédia provocou, Bernardo estava feliz em não ter de ir à escola, em poder ficar mais tempo em frente a um computador; enfim, em poder nas palavras dele ser “O menino Cibernético” e poder assistir, mesmo que de pijama, o mundo passando à sua vista. O universo sobre a perspectiva do menino falante é mais simples, mais proveitoso, mais grato. Sem lamúrias do que se vive, mas apenas do que não se quer perder. Assim, como tudo o que acompanhamos nesses três livros sobre “Bernardo”, o mundo é mais “presente”; e o universo de suposições e imaginações abastecem o que há de mais importante na vida: o momento.




O que aprendi com essa trilogia e com a convivência quase que diária com “Bernardo” nos últimos meses, é que o mundo, para ser compreendido em sua totalidade e beleza, necessita de diferentes olhares; alguns, inclusive, que fogem ao que convencionalmente se optou por chamar de “normalidade”, já que o que nos entrega as possibilidades de mudanças das realidades que vivenciamos passa, indiscutivelmente, pela nossa capacidade de racionalizar menos e sentir cada vez mais. O mundo sensível de “Bernardo” é bem mais sincero, simples e, por sua natureza, mais PRESENTE do que o eventualmente vivemos.