Retrospectiva 2010 - uma tentativa

Seria impossível listar aqui todas as grandes realizações culturais em 2010, por isso, assim como em toda e qualquer retrospectiva, escolhi os principais fatos que participei esse ano para fazer esse pequeno registro histórico. A seleção dos eventos aconteceu sob o critério extremamente pessoal. Ou seja, alguns podem discordar da importância que darei a determinado evento em detrimento a outro, mas isso é apenas uma opinião pessoal, cada qual tem a liberdade de opinar a respeito dessas colocações da maneira que achar melhor. Fiquem a vontade, este é um blog extremamente democrático.


Bem vamos lá. O ano começou com uma importante matéria na Revista da livraria Cultura. Uma entrevista, que viria a ser a ultima, de José Mindlin. Este importante bibliófilo aprendeu a amar os livros muito cedo e não parou mais. Sua rica coleção foi doada a Universidade de São Paulo, mas os estudantes e leitores em geral podiam visitar, em sua própria residência, esse belíssimo acervo cheio de edições raras e tiragens únicas. Mindlin nos deixou em 28 de Fevereiro de 2010. A mim, particularmente, muita saudade. Aos alunos da USP um tesouro.





A Alegria do Circo foi revivida em dois momentos no ano de 2010. Na deliciosa leitura sobre a memória preservada da história por detrás do encantamento e da magia do circo, publicado por Amanda Zeni na revista da Livraria Cultura em Março e na visita que fiz ao circo América, instalado em Itapecerica da Serra na primeira Semana de Julho. No espetáculo mágico do circo pude ver, agora com olhos mais amadurecidos, que todo o espetáculo de um picadeiro pobre é feito por no máximo oito pessoas. O palhaço é o animador, trapezista, pipoqueiro e vendedor de fotografias na saída. Cada membro desenvolve mais de quatro tarefas e quase sempre simultâneas. Tudo para que o público tenha alguns minutos de diversão e arte. Estive com minha sobrinha Victória que, não podia ser diferente, ficou encantada com as luzes, as cores e o dinamismo dos integrantes daquela nave maluca cheia de beleza e superação.


Outro momento marcante aconteceu no dia 24 de Abril em Campinas. Estávamos em Campinas para o lançamento do livro Círculos de Influências, de Marco Aurélio Scarpinella, no Espaço CPFL Cultural. O lançamento seria antes da apresentação Vanguarda Musical Russa reprimida – período Khrénikov, sob a curadoria de Antonio Eduardo e Gilberto Mendes, com a participação do violoncelista Fábio Pellegatti, a contrabaixista Sonia Ray e o pianista Antonio Eduardo, que dividiu o piano com Maria Emilia Moura Campos. O espetáculo foi fabuloso, marcante, instigante. O programa trazia obras de Alfred Schittke, Galina Ustvolskaya, Sofia Gubaidulina e Nicolai Kapustin; uma música que provocou as mais diversas reações no público. Alguns se levantavam e saíam após ver o violoncelo ser tocado de costas, outros ficavam, como eu, encantados com a ousadia e a novidade que se firmava diante de meus olhos. Mas o evento maior foi depois, quando no saguão do espaço, conheci Antonio Eduardo e tive o prazer de adquirir seu CD “da areia também se vê o mar”. Disco que rodou centenas de vezes em meu laser; uma obra ria e rara de um dos maiores pianistas do Brasil em atividade. Um interprete revolucionário de uma música revolucionária.



E por falar em revolução o mês de Abril prometeu, um dia antes do espetáculo anterior citado, assisti a filme Utopia e Barbárie de Silvio Tendler. Um documentário sobre as lutas sociais da segunda metade do século xx no Brasil e nas Américas. Com destaque para o enfrentamento ao regime militar brasileiro. O filme é bom, salvo o interesse descarado de promover a campanha de Dilma Roussef à presidência da República, aliás, o cinema nacional ajudou bastante o PT em 2010, já não bastava o Lula, O filho do Brasil de Janeiro, agora eles lançaram outra produção para mostrar que os heróis chegaram. A Utopia não pode morrer, mas eles se esforçam bastante para matá-la.




No dia 25 e Abril, o Família Bike 2010 disparou em frente à Praça da Fonte de Itapecerica da Serra. Um percurso de pouco mais de 20 km com uma multidão alegre e empenhada em terminar a prova resume este belo passeio ciclístico na manhã de domingo. Após algumas horas de muita serra, muito morro e pouca água, paramos em um sítio que hoje funciona a sede da Universidade Digital de São Carlos, na Estrada Armando Sales. O sítio te um lindo pomar, a vista para o Rodoanel, uma flora intocada e uma fauna composta por serelepes , lagartos e outros animais silvestres que encontram naquele local um lar. Mais um maravilhoso passeio a bordo da minha querida poderosa.



No dia 02 de Maio, Theatro São Pedro, assisti a primeira ópera da Temporada 2010. Nada mais nada menos que Tosca de Giacomo Puccini. Ana Paula Brunkow, Rubens Medina e Rodrigo Esteves, traziam aos palcos do São Pedro, com a orquestra da OSUSP sob a Regência de Ligia Amadio, um dos melhores espetáculos de ópera do ano. Elogiado pela maioria da crítica, essa encenação de Tosca, nos devolve a força do drama na ópera de Puccini, conhecido por suas criações cômicas e leves orquestrações. Coincidentemente no Natal de 2010 ganhei de meu irmão, Ciro, um DVD com a Cia Canadense de Ópera que remonta esse que belo espetáculo lírico.




Três dias depois, a grande festa da ópera e da música clássica acontecia na Sala São Paulo. Era a cerimônia de entrega do XIII Prêmio Carlos Gomes.A lista dos vencedores já foi publicada no blog oficial da ALGOL editora e já é de conhecimento de todos. Gostaria de registrar aqui as três grandes surpresas da noite para mim. Primeiro foi o número de indicações e prêmios recebidos pela ópera de Villa-Lobos A menina das Nuvens. Merecido por sinal, já que eu assisti alguns trechos na internet e realmente é maravilhoso. Em 2011, ouvi rumores de que a Menina das Nuvens irá reinaugurar o Theatro Municipal de São Paulo, espero que isso aconteça, será um grande presente para cidade. Mas claro precisa ser com a Gabriela Pacé, a eterna menina das nuvens, essa soprano foi a grande revelação lírica para mim em 2010. No final do ano ela ainda nos presenteou com uma inesquecível Viúva Alegre. Bem, voltando ao Prêmio Carlos Gomes, a segunda surpresa da noite foi o dueto de Gabriela Pacé e Adriana Clis na Barcarola – Os contos de Hoffman de Jacques Offenbach, a beleza das vozes deixou o público paralisado. A mãe de uma amiga ficou encantada, e assim como ela, eu também fiquei. Quanta delicia em notas bem trabalhadas e doces vozes num bailar apaixonante. Mas, a noite ainda tinha outra grande surpresa para mim.

Quando ninguém mais esperava grandes apresentações, já que todos os prêmios haviam sido entregues, a Niza de Castro, mestre de cerimônia, já havia feito o discurso final, eis que o maestro Carlos Moreno, juntamente com a orquestra de Santo André, decidem dar uma canja com uma música da autoria do maestro e jamais reproduzida em público. Abertura Vittória deixou-me cravado em meu assento sem quase respirar. Foram seis minutos de pura emoção e prazer em ouvir uma canção tão bela e tão provocante quanto a composição daquele maestro. Fechando assim minha noite com chave de ouro. Nem me importei tanto em saber que naquele dia o Corinthians havia sido eliminado da Libertadores pelo Flamengo em plano Pacaembu. Minha Noite com a Menina das Nuvens, a Barcarola e a Abertura Vittoria já estava consolidada como uma das inesquecíveis de 2010.


Anna Caterina Antonacci, que linda soprano. Sua beleza exterior é compatível a voz de ninfa que emana quando seus lábios se afastam. Assisti ao seu espetáculo na Sala São Paulo no dia 22 de julho e jamais esquecerei. Jamais ouvira Gabriel Fauré como nesta noite. Realmente encantadora. É, já li isso em outros lugares, o tempo das Sopranos Reconchonchudas e de cabelos amarrados já era. Anna Caterina, Netrebko, Lamosa e Pacé estão aí pra mostrarem que novos tempos chegaram. A linda era de Maria Callas.


E por falar em Rosana Lamosa, o mês de Agosto chegou e eu ansioso para ver minha diva cantando ao lado de seu marido, Fernando Portari, de talento indiscutível e de uma generosidade sem tamanho. E lá estava, no dia 24 de agosto, a diva no papel de Norina em Don Pasquale. Além do espetáculo abrilhantado pelo casal 20 da ópera brasileira, outra especial surpresa foi a performance de Saulo Javan (Do Pasquale) e Douglas Hahn (Malatesta) em um dueto belíssimo com direito a uma tentativa de malabaris com chapéus e bengalas. Maravilhoso. Grande parte desse espetáculo esta no Youtube, http://www.youtube.com/watch?v=5ENj7TlEUQE, acessem este que foi o terceiro espetáculo da temporada do Theatro São Pedro. O Segundo foi Rigoleto, julho de 2010, o qual assisti ao ensaio final e tivemos uma grande decepção com o tenor. No ato mais famoso dele , La donne móbile, ele simplesmente não cantou. Mas enfim, voltando ao casal 20, eu teria a oportunidade de vê-los atuando mais uma vez. Dessa feita no Rio de Janeiro com Romeu e Julieta.


Dia 09 de Setembro no teatro Eva Herz, assisti ao espetáculo do grupo Amarcord. Esse grupo faz da ópera uma experiência dinâmica com a fusão, ao mesmo tempo, da comédia com o melodrama. O grupo italiano construiu uma nova linguagem através da qual “comunica a música”. Tal linguagem trabalha desde a produção musical, a organização e interpretação de cena, com uma diferente e moderna leitura dos libretos. O programa inclui Rossini, Verdi, Donizetti, Puccini, Mozart até Di Capua. Uma divertida noite com essa remontagem especial dos clássicos, incluindo instrumentos não muito convencionais como o acordeon, teclados digitais e até pandeiros.

E o mês de Setembro estava apenas começando. No dia 21/09 assisti ao Romeu E Julieta do Casal 20, Lamosa e Potari, no teatro Municipal do Rio de Janeiro, de Charles Gounod. Com produção de Carla Camurati e regência de Silvio Vegas esse é o grande candidata para ópera do ano de 2010. A produção encontrou o equilíbrio certo entre cenário e as deficiências arquitetônicas do teatro para que todos pudessem ver a janela de Julieta, as lágrimas de Romeu e os duelos Shakespearianos. Nessa ópera reencontrei Adrian Clis, lembram do prêmio Carlos Gomes, a Barcarola veio na hora em mente. Depois nos reencontramos no lançamento do livro Arquitetura da emoção em Novembro.

Nos dias que seguiram 22 e 23 de Setembro, assisti ao IV seminário de poesia e contemporaneidade na UFF. Bem, as descobertas nesse grupo dariam um livro, então vou elencar aqui a descoberta de uma pessoa. Professora Flora Sussekind, na primeira mesa do dia 23, deu um espetáculo de academia funcional. Mostrou aos membros da mesa que a poesia deve ser tratada com status de humanidade, e não apenas trabalhos subjetivos de complexa assimilação social. Mas pra frente conheci, em um evento na livraria da Vila, na presença de Ondjaki, o professor Antonio Dimas, que se mostrou bastante comprometido com esse ponto de vista da professora Flora. Para mim, os tesouros que conheci esse ano, dentro da academia, são eles: Professora Flora, Professor Dimas, Professora Vima e Flávia, cujo espírito de reformulação dos conceitos de academia funcionalidade estão de acordo com o que eu já começava a acreditar ser pura utopia.





No dia 15 de Outubro, Teatro Humboldt, assisti a uma montagem compactada, mas nem por isso ruim, de A flauta Mágica. Surpresa ao chegar ao teatro e ver que tão perto de casa temos um teatro com aquela qualidade. E na apresentação dos jovens cantores daquela ópera, com destaque para as interpretações de Rainha da Noite e Papageno.







Mas o mês de Outubro ficou verdadeiramente marcado pelo início do projeto de Leitura aos domingos no colégio Leda Felice. Um grupo mais que especial formou-se nesse projeto e hoje tenho novos amigos cuja aliança é a literatura. O melhor desse projeto é que em 2011 ele continuará com força total, atraindo mais amantes da literatura e trazendo uma nova opção de lazer e cultura para os cidadãos da nossa cidade. Visite nosso site: http://letrasleda.blogspot.com/

E a lição de Ionesco que não saiu? Bem as eleições, o ENEM e outros fatos nos atrapalharam, mas em 2011, a lição vem aí.





Como eu disse no início, houveram outros tantos fatos importantes, como o espetáculo com Elisabete Savalla no largo da matriz, outras óperas, musicais, filmes, aulas de violino ( foram todas inesquecíveis), eventos literários ( como o Letras em Cena- inesquecíveis leituras dramáticas), viradas, lançamentos, projetos, que poderiam aparecer nessa retrospectiva mas seria impossível fazê-la nesses moldes, de modo que o que aqui está exposto representa bem os principais eventos culturais de 2010 em que estive presente. Só posso falar do que vi e ouvi, o resto é especulação.



Um grande beijo à todos e um 2011 repleto de realizações para todos nós.




Ari Mascarenhas - FV

Lançamento da biografia de Bela Bartók

Lançamento do livro: Nela Vive a Alma de Seu Povo: Vida e Obra de Bela Bartók

Lauro Machado Coelho

Biografia de Bartók estará disponível em Dezembro nas livrarias.
Bela Bartók sempre foi um solitário. Desde cedo desenvolveu uma integridade que – à exceção de algumas pessoas mais próximas – lhe valeu mais respeito do que estima. Desde muito cedo teve consciência de sua importância como compositor, apesar da dificuldade de aceitação contra a qual sempre lutou. - Lauro Machado Coelho.

Sempre atento a história e a formação de canções populares, Bartók, além de seu prestígio como compositor passa a ser também um grande estudioso do tema, criando juntamente com Kódaly os conceitos de etnomusicologia que viriam a revolucionar a maneira como se ouve ou estuda música no século XX. Este livro nos traz um panorama completo dessa bela carreira que nos presenteou com três concertos para piano, um concerto para orquestra, seis quartetos para cordas, sonatas e os mikrokosmos.

Assim como as biografias de Franz Liszt, Anton Bruckner, Hector Berlioz e Jean Sibelius, lançados por esta editora, este quinto livro dá sequência a série de biografias de compositores eruditos, inéditas em língua portuguesa, assinada por Lauro Machado Coelho, o autor oferece a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra desses cuja a critica tem encarado com um certo desdém.




Lançamento dia 01/12



Nela Vive a Alma de Seu Povo:

vida e obra de Béla Bartók



Lauro Machado Coelho



São Paulo, Algol editora, 2010



ISBN 378-85-60187-28-7

Formato: 15 x 23 cm Brochura Papel: pólen soft 80 g/m² Páginas: 256

Bibliografia Índice onomástico

XII Festa do Livro USp-2010 - Lista das editora participantes

Caros amigos a já tradicional Festa do Livro da USP terá a sua XII edição nos dias 24,25 e 26 de Novembro no prédio de História FFLCH.
O Grande diferencial deste evento é que todos os livros possuem o desconto de 50% em seu preço de capa, o que faz da feira, um excelente espaço para aquisição de livros e presentes de fim de Ano.
então, não compre livro hoje, espere até a Festa do livro e garanta seus exemplares com 50% de desconto.
Segue abaixo a relação das editoras participantes neste ano.


RELAÇÃO DAS EDITORAS PARTICIPANTES:


EDITORA


7 LETRAS

A.C.A. MUSEU LASAR SEGALL

AD HOMINEM

AEROPLANO EDITORA

ALAMEDA EDITORIAL

ALGOL EDITORA

ANNABLUME EDITORA

ANPOCS

ARTES & OFÍCIOS

ASSOCIAÇÃO EDITORIAL HUMANITAS

ASSOCIAÇÃO SCIENTIAE STUDIA

ATELIÊ EDITORIAL

AUTÊNTICA EDITORA

AZOUGUE EDITORIAL

BEM-TE-VI PRODUÇÕES LITERÁRIAS

BERLENDIS & VERTECCHIA EDITORES

BOITEMPO EDITORIAL

BRINQUE-BOOK

CALLIS EDITORA

CAPIVARA EDITORA

CASA DA PALAVRA PRODUÇÃO EDITORIAL

CIRANDA CULTURAL

COMPANHIA DAS LETRAS

CONRAD EDITORA

CONTRAPONTO EDITORA

COSAC NAIFY

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA DA USP

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

DISCURSO EDITORIAL

DUNA DUETO

EDIÇÕES PINAKOTHEKE

EDIÇÕES ROSARI

EDIPRO

EDITORA 34

EDITORA ALEPH

EDITORA ALFA-ÔMEGA

EDITORA BARCAROLLA

EDITORA BECA

EDITORA BIRUTA

EDITORA BLUCHER

EDITORA BRASILIENSE

EDITORA CENTAURO

EDITORA DA FIEO

EDITORA DA UFF

EDITORA DA UFRJ

EDITORA DA UNICAMP

EDITORA EDUSC

EDITORA ESTAÇÃO LIBERDADE

EDITORA EXPRESSÃO POPULAR

EDITORA FIOCRUZ

EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO

EDITORA GARAMOND

EDITORA GIORDANO

EDITORA GIRASSOL

EDITORA GLOBO

EDITORA HEDRA

EDITORA HORIZONTE

EDITORA HUCITEC

EDITORA ÍBIS

EDITORA ILUMINURAS

EDITORA IMAGINÁRIO

EDITORA INSTITUTO PAULO FREIRE

EDITORA LANDSCAPE

EDITORA NARRATIVA UM

EDITORA NOVA ALEXANDRIA

EDITORA PAPAGAIO

EDITORA PEIRÓPOLIS

EDITORA PERSPECTIVA

EDITORA SUNDERMANN

EDITORA TERCEIRO NOME

EDITORA TYKHÉ

EDITORA UEPG

EDITORA UFMG

EDITORA UFPR

EDITORA UNESP

EDITORA UNIFESP

EDITORA VEREDAS

EDITORA WMF

EDUEL - EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

EDUEM - EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

EDUERJ - EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

EDUFU - EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

EDUSP - EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SP

ESCRITURAS EDITORA

FONDO DE CULTURA ECONOMICA

GLOBAL E GAIA EDITORA

GRUPO ÁTOMO & ALÍNEA

HUMANITAS - FFLCH USP

IEA - USP

IEB - INSTITUTO DE ESTUDOS BRASILEIROS

IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO DE SP

INSTITUTO MOREIRA SALES

INSTITUTO PIAGET

LANDY EDITORA

LAZULI EDITORA

LEITURA MÉDICA

LÍNGUA GERAL

LPM

MANATI PRODUÇÕES EDITORIAIS

MARTINS MARTINS FONTES EDITORA

MAUAD EDITORA

MUSA EDITORA

MUSEU PAULISTA

NANKIN EDITORIAL

NOVA FRONTEIRA

ODYSSEUS EDITORA

OFICINA DE TEXTOS

OURO SOBRE AZUL

PALAS ATHENA EDITORA

PALLAS EDITORA

PANDAS BOOKS

PAPIRUS EDITORA

PAULINAS EDITORA

PAULUS

PAZ E TERRA

PUBLIFOLHA

REVISTA USP / CCS

ROMANO GUERRA EDITORA

SÁ EDITORA

TASCHEN

TERRA VIRGEM EDITORA

VIA LETTERA EDITORA

VIEIRA & LENT

XAMÃ EDITORA




NOS VEMOS LÁ!!!

Lançamento do Livro ANTONIO MENESES- ARQUITETURA DA EMOÇÃO

Em “Arquitetura da Emoção”, um dos mais importantes músicos brasileiros fala aos jornalistas João Luiz Sampaio e Luciana Medeiros sobre sua vida pessoal e carreira




“Mas João Gerônimo tinha planos para os filhos. Depois de anos observando a rotina da Sinfônica do Municipal do Rio, percebeu que o problema não era encontrar instrumentistas para a seção de metais, que na época a grande quantidade de bandas espalhadas pelo país conseguia abastecer. As orquestras brasileiras precisavam era de instrumentistas de cordas – a maioria era contratada fora do país. E foi assim que, quando Antonio completou 10 anos, em agosto de 1967, recebeu do pai o violoncelo, sem consulta ou explicação. – Meu pai me disse que aquele seria meu instrumento, e que já tinha uma professora acertada para me dar as primeiras aulas.” Trecho de Arquitetura da Emoção



Construído a partir de quase sessenta horas de entrevistas com o violoncelista brasileiro Antonio Meneses, o livro “Arquitetura da Emoção” está dividido em duas partes. Na primeira, acompanhamos a narrativa biográfica do menino pernambucano que se muda com a família para o Rio, onde tem seus primeiros contatos com o violoncelo e de onde partiria, sozinho, aos 16 anos, para a Europa, tornando-se um dos principais intérpretes de sua geração. As histórias de dedicação, estudo, dificuldades e ousadia são pontuadas por casos bem humorados e lembranças carinhosas e divertidas. Já na segunda parte, o violoncelista discute questões que o mobilizam: a relação entre técnica e inspiração, a redescoberta do repertório, o ato de gravar, a atividade como professor, a busca de novos públicos, as parcerias com outros músicos.

As duas partes, porém, não devem ser vistas de maneira isolada. Como apontam os autores, a arte de Meneses é aquela que busca o equilíbrio entre a voz do intérprete, suas experiências pessoais, e a lógica própria, a arquitetura da música que ele interpreta. É no diálogo entre esses elementos, portanto, tão fundamental quanto difícil de obter, que é possível vislumbrar os caminhos do músico. Assim, o livro se propõe a ser esse retrato de um artista em transformação. Ao longo de suas páginas, encontramos um Meneses que, ao olhar em direção ao passado, esboça uma ideia de futuro, de nova relação com a música e o instrumento. Afinal, lembram os autores, o ser humano, em sua memória, desafio o tempo. Passado, presente e futuro não podem ser compreendidos à parte. “É, afinal, nas frestas entre eles que vive o artista. E o homem.”

Os autores

João Luiz Sampaio é jornalista, repórter da área de música do Caderno 2 e editor-assistente do suplemento Sabático, do jornal O Estado de S. Paulo; autor de Ópera à Brasileira e Prêmio Carlos Gomes: Uma Retrospectiva, publicados pela Algol Editora. Luciana Medeiros é jornalista, carioca, trabalhou na Rádio JB, Rádio MEC e O Globo, entre outros veículos de comunicação; é assessora de imprensa da área cultural com ênfase em música clássica e ópera.



Lançamento em São Paulo

Dia 27/10- 19h – local LIVRARIA CULTURA - CONJUNTO NACIONAL

Av. Paulista, 2073 - Bela Vista - São Paulo - SP

Tel.: (11) 3170-4033



Lançamento – Rio de Janeiro

Dia 31/10 – 17h

Local: Livraria da Travessa -Shopping Leblon

Av Afrânio de Melo Franco, 290 - loja 205 A

Tel.: (21) 3138-9600





Antonio Meneses: Arquitetura da Emoção

Autores: João Luiz Sampaio e Luciana Medeiros



Ficha técnica:

224 págs. em pólen soft 80 g/m2 1x1 cores

32 págs. de imagens 4x4 cores

formato: 15 x 23 cm

ISBN: 978-85-60187-26-3

Livro + CD

CONFIRA O VÍDEO DE LANÇAMENTO
 

Violante e o consumo do século XXI

Violante e o consumo do século XXI – Uma breve observação sobre o conto de Proust.





Quanto um tema que serve de enredo para a história de uma aristocrata austríaca nos primórdios do século XX pode ser relevante para o pobre consumidor emergente do século XXI? E qual é a relação possível de um velho preceptor de uma donzela na Estíria e as lágrimas de um jovem niilista que não teme descrever o que pensa?

A história se passa próximo de Salzburgo na Áustria, numa região conhecida pelos belos campos e bosques intermináveis. Nesse cenário que mais parece as ricas paisagens impressionistas de Claude Monet, Marcel Proust ( 1871-1922) descreve um de seus primeiros contos, intitulado Violante ou a Mundanidade¹.

Violante é herdeira de uma rica e extensa propriedade. Seus pais morrem quando ainda é apenas uma adolescente. Na verdade seu pai havia morrido há mais tempo, durante um acidente de caça. Acidente igualmente parecido que acabará por levar sua mãe também, anos mais tarde. Quase todo tempo a menina fica na presença de seu preceptor, Augustin, um amável senhor que detinha um conhecimento de vida muito acima dos que o julgavam pelos seus trajes de criado. Ela fora criada distante da civilização e assim pode aprender a ouvir e tocar coisas visíveis e às vezes invisíveis aos olhos mundanos. Isso mesmo, Violante era um menina pura.

Tal pureza foi-lhe cortante quando ao conhecer um jovem da cidade, e ouvir ousadas investidas deste rapaz, recusou-se a beijá-lo e prosseguiu sua vida campina. Mas este fato mudaria a vida da garota para sempre. Com o passar dos anos começou a acreditar que não se casaria, caso não tomasse uma atitude drástica: a de se mudar para a Cidade.

Augustin até que tentou persuadi-la para que não fosse com argumentos mais que nobres. Afirmava que depois do contato com as “misérias” humanas que habitavam o coração dos cosmopolitas ela jamais conseguiria ter a pureza que lhe era tão peculiar por ser, desde a infância, parte da natureza e toda sua simplicidade terrena. Mas, Violante estava decidida e se mudou. Casou-se com um homem muito rico, alinhou sua beleza natural e jovial com belas roupas e jóias. Tudo impressionava muito em Violante e assim, era muito admirada no meio em que vivia. A camponesa, apesar de jamais ter sido plebéia, tornara-se uma importante mulher a qual todos convidavam para festas, encontros, chás e outras puerilidades.

O velho Augustín, que por muitas vezes tentou convencer sua senhora voltar para a Estíria, acreditava que um dia, quando ela se cansasse de tudo, ela voltaria.



“não vos apoieis no junco que o vento agita e não depositeis nele vossa confiança pois toda carne é como a relva , e sua glória passa como a flor do campo”



Bem, resumindo o conto, após tantas festas, compras e noites mal-dormidas, o tempo passou; e agora, as festas já não eram mais constantes, os convites já eram mais raros e a beleza da pele fina saia de cena para dar espaço às marcas da vida. Violante, que tinha em seu sangue a vivência jamais corrompida de uma “raiz do campo”, vivia hoje apenas no estado de flor, que a cada inverno se torna ectoplasmas. Como era de se esperar ela cansou, e pedia com frequência ao marido que ambos fossem embora para Estíria. O bom marido sempre concordara com a escolha de sua esposa, mas era ela quem sempre adiava a viagem, com diversas desculpas.

Violante nunca voltou ao campo, morreu velha e muito infeliz. A moribunda figura que atendia por Violante nos seus últimos dias de vida, em nada lembrava a doce e alegre menina que corria nos campos, tocava piano e cantava sozinha nos jardins de seu paraíso na infância.

O Conto termina com uma observação do autor, sobre as expectativas de Augustin, que nos faz refletir acerca dos valores que consideramos verdadeiramente “valorosos” em nossa vida e , o grande Proust, na minha opinião, mata a grande charada de nossa incapacidade de mudança que nos concerne , a cada dia, a um calabouço mais fundo em nossa triste existência consumista.



(...) Augustin contara com o fastio. Mas não contara com uma força que, se alimenta de inicio pela vaidade, vence o fastio, o desprezo, o próprio tédio: O hábito.



Esse é o gatilho que corrompe a todos os cidadãos no mundo onde somos imagens. Não a imagem natural, que alguns atribuem sua autoria divina, mas sim a imagem hipotética daquilo que somos através do que mostramos ter. O hábito nos tornou comuns. O hábito nos tornou semelhantes. Somos todos semelhantes perante nossos desejos de consumo. O problema é que não somos nada semelhantes perante nosso poder de consumo. E é nesse momento, que o pobre consumidor do século XXI, se vê numa pequena ilha habitada por milhões de pessoas enquanto poucos desfrutam do espaço e dos prazeres de um imenso continente.

Talvez a saída esteja no desejo de retornar ao campo. No campo que existe dentro de nós.

A pureza de quando não sabíamos comprar, nem vender. Muito menos exibir, ostentar, cobiçar bens que não existem. Os bens que Violante conquistou nenhum valor tinham, pois toda a riqueza fora desprezada em nome de um hábito que alimentava uma necessidade parva e medíocre.

Sinto-me como Augustin, que esperava uma mudança por conta das percepções dos erros, mas que não contava que o enraizamento de atos sem nenhum sentido presente, fosse capaz de emergir um ser humano numa sórdida lama de incapacidade e covardia.

Os ricos morrem de tédio por consumismo irracional, os pobres morrem de tédio por desejarem um consumismo irracional. E qual é a razão de ser um balaustre do consumo numa promoção, explicitamente, reveladora? Nenhuma. Apenas a certeza de que “morreremos cheios de uma vida tão vazia”².

Só nos damos conta de que foi um erro tanto exibicionismo de “imagem” quando ela nos deixa e é subitamente, ou lentamente, substituída por nossa verdadeira face, nossos verdadeiros medos e , assim, afasta aqueles que nunca estiveram ao nosso lado, abrindo as portas para uma ruidosa solidão que grita em nossa alma a amargura de termos desperdiçado tanto tempo com nada. Esse grito se torna ainda mais retumbante quando notamos que tal destino nem fora nossa escolha na juventude, mas sim, uma insistente promoção de vulgaridades e imediatismos que nos encantara e mais tarde nos condenaria a morte com um pequeno coração ainda pulsante.



¹ VIOLANTE ou a MUNDANIDADE – Marcel Proust –tradução de Dorotheé de Bruchard.

² trecho da canção Muros e Grades – Humberto Gessinger.
 

Curso de Leitura e Análise literária


O programa Escola da Família da escola Leda Felice Ferreira ( Jd Paraíso- Itapecerica da Serra) e os grandes nomes da literatura convidam a todos para o curso de Leitura e Análise literária que começará no dia 12/09/2010- Domingo – 10h30



As inscrições serão realizadas pessoalmente, com o professor Afonso até o dia 11/09 ou até 30 min. antes do inicio da aula. Ou através do e-mail:



frutovermelho@gmail.com

Visite Nosso Blog: http://letrasleda.blogspot.com/

As cartas de Rita e Macabéa.

Instigando a investigação da crença.



A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.



— As cartas dizem-me...

( Trecho de A cartomante- Machado de Assis)







“Madama Carlota havia acertado tudo. (...) Até para atravessar a rua ela era outra pessoa. Uma pessoa grávida de futuro. Sentia em si uma esperança tão violenta como jamais sentira tamanho desespero. Se ela não era mais ela mesma, isso significava uma perda que valia por um ganho. Assim como havia sentença de morte, a cartomante lhe decretara sentença de vida. Tudo de repente era muito e muito e tão amplo que ela sentiu vontade de chorar. Mas não chorou: seus olhos faiscavam como o sol que morria. Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora, é já, chegou minha vez! E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a (...)”

(Trecho de A Hora da Estrela- Clarice Lispector).





Pensar os estreitos caminhos entre personagens, ambientes, tramas e desfechos de dois cânones da nossa língua; A Hora da Estrela, de Clarice Lispector e o conto A Cartomante do grande Machado de Assis, é o mesmo que mergulhar no vasto universo da interpelação dos valores e crenças vividas por ambos.


Mais do que uma coincidência, as obras promovem um embate ideológico no que se refere à questão do elo que une todas as classes e crenças, o destino. Uma observação mais dirigida, para compreender esta dialética, é observar de forma mais precisa um personagem incomum, nas duas obras, a conduta da advinha.


Seria um equivoco de interpretações? A imagem de anti-heróis tão bem construída por ambos os autores é a discrepância de uma alma suburbana e irresponsável?


A tragédia presente nos desfechos de ambas as histórias nos reflete uma intencionalidade discutível no que se refere às apreciações do tema. Podemos estabelecer diretrizes comparativas que denotem, de forma objetiva, os discursos ideológicos dos autores mencionados, a fim de promover um olhar mais crítico das cenas- ápices de cada um.


A introspecção de Clarice e a crítica aos costumes de Machado encontram-se em um ação, insana ou não, de aglutinar os sonhos de seus personagens em pitorescas atitudes marginais. Pois tanto no romance de Clarice como no conto de Machado, a prática da cartomancia é ilegal, censurável e vinculada a outras atitudes ilícitas como prostituição adultério; reforçadas epifanicamente com linhas de expressões figuradas.


Lembremos de Erich Auerbach quando este afirmou: Só em virtude da relação mais geral, isto é, só porque somos seres humanos, ou seja, sujeitos ao destino e à paixão, sentimentos, temor e compaixão (Auerbach 1946). A nata desta mensagem, se conduzida aos atos de Rita, Camilo e Macabea, pode ser interpretada como, um destino inevitável, que na verdade aparece na obra como uma “escolha”. A escolha pela felicidade no amor, de Camilo e Rita, ou simplesmente na aceitação, após a descoberta da verdade sobre si mesma, da pobre e sonhadora Macabea.


Contudo, nenhum dos desfechos justifica o ato da Cartomante que fez de seu trabalho o estopim de um medo enjaulado em sua penumbra de forma que esta aparição fosse de acordo com as metáforas utilizadas, realizada com a mais perfumada e bela das imagens: A mentira.


Mentia ou ignorava? Qual era o verdadeiro ato destas mulheres que viviam da simplicidade alheia?


Pensemos no conto “A Cartomante” e no romance a “Hora da Estrela”, ambos, cânones acadêmicos de nossa literatura, escritos em épocas distintas, por autores cujas características são extremamentes singulares, exceto, da escolha do portal para o desfecho das suas trágicas histórias: a crença na arte divinatória.


A Cartomante, conto do final do século XIX utiliza-se dessa crença para decidir o destino de um casal burguês apaixonado, bem- sucedidos financeiramente, viventes em sua própria região e com apenas uma dúvida: poderiam ou não serem felizes após o adultério, obedecendo a corações que sobrepujavam os valores de fidelidade e caráter socialmente apreciados na época.


Já em a “Hora da Estrela”, romance de 1977, a pobre Macabéa, imigrante, sem instrução e apaixonada, procura conselhos da cartomancia em busca de uma esperança que lhe dê forças para enfrentar os dias difíceis, comuns em sua fatídica existência.


A relação entre o papel fundamental da cartomante no desfecho dessas duas histórias é o corpus base de análise desta perspectiva sugerida. Sob a ótica da construção verossímil e o discurso de controle que ambos, os autores trabalham em suas obras.






O que intriga e instiga esta pesquisa é a semelhança narrativa que ambas,as histórias, no dipolo clássico “felicidade e tragédia” possuem como características sinestésicas de seus protagonistas. Deve-se buscar com esta análise uma maior compreensão dos textos e concomitantes afirmações que enriqueçam ainda mais, a tão bem constituída, percepção crítica sobre estas obras.


Transportar a crendice popular para o universo da literatura é como afirma Eric Auerbach em seu antológico trabalho “Mimesis”: “A maneira de dar vida a literatura” (Auerbach 1946). A história da humanidade está envolta a todo tipo de crença que reza a sorte e o destino de civilizações inteiras ou apenas de pessoas comuns.


Macabéa e Rita, cada qual com sua necessidade, encontram na dúvida das possíveis interpretações que atendam seus interesses, dada a tragédia que se aproxima de cada uma. Desfecho trágico, perceptível ou não, são alimentados pelos autores como alucinações produzidas pelo medo e pela ansiedade. Sentimentos que cegam as protagonistas e as conduzem ao além. São inseridos nestes contextos o que Walter Benjamin chamou em seu ensaio A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (BENJAMIM 1955) de valor de culto de obra e valor de exposição, na reconstituição da história na arte: A produção artística começa com imagem ao serviço da magia. O que importa, nessas imagens, é que elas existem, não que sejam vistas.


Pensar a tragédia como produto da crença, mística ou não, é produzir um efeito desafiador para o leitor destas obras. Esse caminho levará o leitor destas obras ao idear de um produto que transcenda o pensamento machadiano ou o de Lispector, superando a búsitis natural deste tipo de reflexão e avançado com solidez sobre o prisma do conhecimento.

TV Digital : Premissa e Realidade

Diante da realidade econômica do Brasil que auxilia na manutenção da crescente desigualdade social; pensar em um sistema de tecnologia digital que revolucione os meios de comunicação, nesse caso a televisão, é como idealizar a TV digital fazendo parte da cesta básica do brasileiro. Visto que as grandes preocupações sociais como: desemprego, violência, fome, distribuição de renda e educação; não permitem espaços para a introdução de mais custos, principalmente se estes recursos , aos olhos do povo, forem destinados ao entretenimento; ou seja o supérfluo.Em relação a essa visão que apresentaremos nossa pesquisa nesse novo universo chamado TV digital,em busca de uma resposta que contradiga ou afirme esse prévio pensamento.Buscaremos apresentar as nuances positivas que incentive os investimentos e o consumo sem deixar de lado os questionamentos e as soluções práticas para o cotidiano que são tão aguardadas pela sociedade.



O sistema de transmissão digital promete uma revolução nos meios de comunicação e a extinção do sistema analógico de envio e captação de sinais telivizíveis. Essa revolução consiste nos serviços oferecidos, distanciando-os da funcionalidade de uma televisão convencional que apenas transmite imagens e transforma o telespectador em um ser prontamente passivo.Esses serviços ,acompanhados de uma excelente definição de imagem e som digital substituirão atividades cotidianas que hoje ficam a cargo de um computador.Ou seja, a televisão digital , oferecerá interatividade,envio e recebimento de mensagens eletrônicas,compras on-line, banda –larga e uma gama de serviços que hoje estão ao alcance dos usuários da Internet.


Praticidade, conforto, agilidade e interatividade são os argumentos utilizados pelos defensores desse sistema para atrair consumidores, anunciantes e investidores. Assim como Assis Chateaubriant fez com a TV analógica na década de 50, outros visionários imaginam e criam projetos com a intenção de convencer a sociedade da importância e , por que não dizer, necessidade da TV Digital no Brasil.Esses projetos analisam detalhadamente o assunto desde os custos prováveis até o prazo para implantação total do sistema.Dentro dessas perspectivas, foram identificadas algumas necessidade de adaptações para que possa alcançar as mais abastadas comunidades e consequentemente interligá-las.Entre essas necessidades, a adaptação do custo a realidade brasileira é a principal , para isso considerasse como solução a fabricação de um decodificador de sinais digitais ,cujo custo aproximado é de R$200 a R$400,00, integrado ao aparelho de televisor convencional e substituindo a necessidade da aquisição de um aparelho digital próprio para o sistema, que custa aproximadamente R$15.000,00.O desconforto estético de um decodificador sobre o televisor será recompensado pelos benefícios que o serviço trará e a adaptação desse pequeno móvel será bem aceita nos lares brasileiros.




Para alguns a idéia de uma implantação do sistema de TV digital em todo Brasil é uma Utopia. Além de ser inviável é contrastante com a nossa realidade sócio-econômica. Os críticos ao projeto defendem o encaminhamento do investimento projetado nessa implantação para a suplência de necessidades mais imediatas da sociedade como as melhorias nos serviços de saúde pública e no setor de educação. O custo de R$200,00 para a aquisição de um decodificador se torna surreal para um país onde sua classe operária sobrevive com um salário de R$350, 00, além do mais as indústrias que fabricarão tal instrumento não projetarão nenhuma melhora nos índices de desemprego, já que esses equipamentos sofrerão subsídios para incentivar a importação de seus paises originais. Os impostos, juros abusivos e a assimétrica distribuição de renda são agravantes reais que transformarão esse projeto em um enorme elefante cor-de-rosa. Um problema, causado pela irresponsabilidade governamental que causará, como sempre, danos á economia nacional que por conseqüência afetam diretamente ao contribuinte.


A televisão digital, distante do seu papel de socialização, será apenas mais um símbolo de status e poder de compra que ficará a disposição de uma minoria detentora das riquezas nacionais.






Paralelamente as criticas, o governo trabalha em busca de soluções que acelerem os projetos e atendam aos interesses dos investidores e da população que aguarda por essa novidade tecnológica.


No início do mês de março os jornais publicaram a decisão do governo na escolha dos padrões japoneses para a implantação do sistema no Brasil, deixando de lado os padrões americano e europeu, a alegação de que as condições contratuais eram mais atraentes. Mas, no final de março, a mesma imprensa divulgou a indecisão do governo na escolha da parceria privada internacional. A decisão foi adiada por tempo indeterminado e não houve uma explicação clara sobre o motivo do adiamento.





Enquanto a TV digital não se torna uma realidade à sociedade e suas    representações fazem o seu papel; o governo buscando parcerias, a iniciativa privada de olho nessa importante fatia do mercado, a imprensa informando sobre a lenta caminhada, os benefícios e os malefícios dessa inovação; e por ultimo o povo que, como na maioria das vezes em que se tomam decisões importantes nesse país, se encontram em sua eterna passividade servil, ignorando que os resultados, positivos ou negativos, dessa investida terão um grande impacto na nossa realidade social.

O assunto é para refletir e o momento é agora, as responsabilidades de um sucesso ou de uma tragédia depende da atitude dos brasileiros, apresentando criticas, melhorias, participações e principalmente interesse em renovar.

ASMC

Leitura em Julho no Parque da Água Branca

Caros Amigos,

Confiram esta notícia enviada pelo Publisnews no dia de hoje. Trata-se da programação de férias no parque da Água Branca. Vale a pena comparecer.

Férias no Parque da Água Branca, com leitura e brincadeira


Haverá oficinas, apresentações musicais, contação de histórias, saraus e muito mais


Enquanto o Espaço de Leitura PraLer está sendo preparado, a Poiesis, em parceria com o Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo, desenvolveu uma programação especial para as férias de julho. São oficinas, apresentações musicais, contação de histórias, saraus e muito mais. As atividades acontecem no Parque da Água Branca (Av. Francisco Matarazzo, 455 – Água Branca – São Paulo/SP).




Programação



8 de julho, quinta-feira  14 às 16 horas

INFANTIL

Brincadeiras populares com a educadora Nathalia Leite



9 de julho, sexta-feira   11 às 13 horas

MELHOR IDADE

Oficina de haicai com o poeta pernambucano Valmir Jordão, com o projeto Mapa da Poesia



14 às 16 horas 

INFANTIL

Oficina de brinquedos com materiais recicláveis para crianças de todas as idades.



10 de julho, sábado  11 horas

PRA LER NO PARQUE

Apresentação da dupla de clowns Adão e Gastão, integrantes do Grupo Jogando no Quintal



14 às 16 horas

INFANTIL

Brincadeiras de roda e cantigas com a educadora Nathalia Leite



14 de julho, quarta-feira  14 às 16 horas

INFANTIL

Rodas de leitura com a educadora Nathalia Leite



15 de julho, quinta-feira  14 às 16 horas

INFANTIL

Brincadeiras populares com a educadora Nathalia Leite



16 de julho, sexta-feira  11 às 13 horas

MELHOR IDADE

Oficina de haicai com o poeta pernambucano Valmir Jordão, com o projeto Mapa da Poesia



14 às 16 horas

INFANTIL

Oficina de brinquedos com materiais recicláveis para crianças de todas as idades



17 de julho, sábado  14 às 16 horas

INFANTIL

Brincadeiras de roda e cantigas com a educadora Nathalia Leite



18 de julho, domingo  11 horas

PRALER NO PARQUE

Presença especial do arte-educador Chico dos Bonecos: "Tudo que embola desembola, tudo que enrola desenrola". Cantando esses versos, Chico dos Bonecos dá vida aos mais diversos materiais, como o diabolô, o pião e o bilboquê



15 horas

SARAU DA CASA

O sarau da Casa das Rosas, com a participação dos poetas Ivan Antunes e Luiz Roberto Guedes, é aberto ao público. Venha declamar o seu poema! No final do sarau, apresentação musical com o conjunto Jogando Tango



21 de julho, quarta-feira  14 às 16 horas

INFANTIL

Rodas de leitura com a educadora Nathalia Leite



22 de julho, quinta-feira   14 às 16 horas

INFANTIL

Brincadeiras populares com a educadora Nathalia Leite



23 de julho, sexta-feira  11 às 13 horas

MELHOR IDADE

Oficina de haicai com o poeta pernambucano Valmir Jordão, com o projeto Mapa da Poesia.



14 às 16 horas

INFANTIL

Oficina de brinquedos com materiais recicláveis para crianças de todas as idades.





24 de julho, sábado  11 horas

INFANTIL

Caça ao Tesouro no Parque da Água Branca, com a equipe educativa da Casa das Rosas.

Para crianças acompanhadas por um responsável.



15 horas

INFANTIL

Brincadeiras de roda e cantigas com a educadora Nathalia Leite.



25 de julho, domingo  11 horas

PRALER NO PARQUE

Espetáculo da Cia. GiraSonhos. “Pequenino Grão de Areia” e “A surpresa da princesa Adronalda Ribeiro da Silva” são narrativas compostas e apresentadas pelo grupo, além de um dos contos brasileiros mais registrados e narrados, em diferentes versões, nos vários cantos do país: “O macaco e a velha”. Tudo isso com brincadeiras e músicas interativas. Participe!


15 horas

MELHOR IDADE

Sarau Mapa da Poesia. Venha recitar seus poemas, na companhia do poeta mais contagiante da cidade de São Paulo: Marcos Pezão.



26 de julho, segunda-feira  14 horas

Abertura do Espaço de Leitura PraLer

Aguarde a programação completa do evento.



28 de julho, quarta-feira  14 às 16 horas

INFANTIL

Rodas de leitura com a educadora Nathalia Leite



29 de julho, quinta-feira  14 às 16 horas

INFANTIL

Brincadeiras populares com a educadora Nathalia Leite.



30 de julho, sexta-feira  11 às 13 horas

MELHOR IDADE

Oficina de haicai com o poeta pernambucano Valmir Jordão, com o projeto Mapa da Poesia.



14 às 16 horas

INFANTIL

Oficina de brinquedos com materiais recicláveis para crianças de todas as idades.



31 de julho, sábado  11 horas

INFANTIL

Caça ao Tesouro no Parque da Água Branca, com a equipe educativa da Casa das Rosas.

Para crianças acompanhadas por um responsável.



15 horas

INFANTIL

Brincadeiras de roda e cantigas com a educadora Nathalia Leite.



1 de agosto, domingo  11 horas

PRALER NO PARQUE

Apresentação com o conjunto de choro Língua Brasileira



15 horas

SARAU POETAS DA CASA DAS ROSAS

Os alunos de poesia da Casa das Rosas prepararam um sarau especial para você.
 
 
 
Todos os eventos são gratuitos. Programe-se e aproveite o melhor possível desta grande festa da literatura.
 
 
FV
 
fonte (http://www.publishnews.com.br/telas/noticias/detalhes.aspx?id=58742)

CCR linha 4 do Metro – Cristo, Cruz e Redenção

Neste mês de junho tive duas experiências das quais gostaria de comentar neste espaço. A primeira veio com um passeio que fiz a tradicional festa do tapete de corpus Christi em Itapecerica da serra. Nada de muito diferente que os anos anteriores, ruas enfeitadas, balões, helicópteros com vôos rasantes, idosos e crianças comendo algodão doce, e um padre sabichão dono de uma verdade absoluta na cidade. Inquestionável.



Bem, isso não é novidade, mas o que me chamou a atenção foi o fato de São Pedro ter contribuído neste ano, fazendo com que o céu ficasse livre o dia todo. Na festa de Corpus Cristhi 2010 não choveu legal isso né. Mas o que tem de tão importante nisso? A preservação das belíssimas imagens construídas ao longo da madrugada fria que antecede o evento. Quero aqui parabenizar aos artistas, alunos e voluntários que fazem desse espetáculo um evento de muito orgulho de nossa cidade. No entanto, os elogios param por aqui.


Enquanto passeava entre os quase 2 km de tapete, pude observar diversas expressões de um mesmo cristo. O cristo que se alternava entre o olhar das crianças, dos jovens, dos bêbados, dos velhos, dos incrédulos, dos ateus, do padre... Um Cristo mitificado por anos e anos de festas religiosas.


A igreja promoveu muito bem sua imagem, e ainda a promove. O papel da igreja tem sido muito bem cumprido. Quase não se questiona a veracidade desses marqueteiros romanos. A tríade do marketing cristão está nos símbolos Cristo, Cruz e Remição. Mais que a trindade essa simbologia nos mostra como funciona a engenharia do marketing cristão, que promove guerras, misérias e o controle cruel das riquezas terrenas. Claro, sempre oferecendo riquezas celestiais para compensar. Mas isso são apenas observações, não vou me aprofundar mais nesse assunto, até porque este não é o espaço ideal.


Essa reflexão sobre as imagens, a igreja e aquele povo pobre que vi naquelas ruas me fez lembrar outro CCR, mas este muito mais moderno, bonito e com claro intuito de trazer Roma para mais perto de nós. O CCR da Companhia de Concessões Rodoviárias.


Já não bastasse este conglomerado capitalista reinar absoluto por nossas rodovias, eis que em junho, ele mostrou seu novo empreendimento inaugurando 1/10 do que será a linha 4 do metro.


- Que beleza! O trem não tem maquinista e nos leva em 2 minutos de pinheiros à Paulista.


Confesso que também fiquei impressionado com a tecnologia emprenhada na obra, mas porque eu deveria ficar impressionado se esta é a empresa que mais lucra, nos ultimos 5 anos, no Brasil? Se esta é a junção das maiores construtoras do país com uma líder no ramo em Portugal e que não investiu um décimo do que sua concessão está prevendo de lucro em 4 anos?


Pois é, nesse caso acho que de CCR estamos bem servidos. Enquanto a igreja explora os pobres com seu CCR ideológico, extorquindo o pouco que resta dessa miserável massa de “ lunáticos corrompíveis” a outra CCR enche os bolsos com suas estradas, revisões veiculares e transporte público.


O mês de Junho, com a COPA do MUNDO, tem muito que se orgulhar desse Brasil Pentacampeão de Futebol. Porquê só isso nos orgulha. O resto nos envegonha.


A luminosidade e o colorido do tapete de corpus Cristhi na festa de Cristo, Cruz e Redenção, abraça-se e nos leva para a escuridão do túnel cavado sob a Av Rebouças na consseção da outra CCR.

A última entrevista de José Mindlin

Caros leitores amigos

Desde o início de 2009 penso em publicar algo sobre José Mindlin. Esta figura elevada que tive o prazer de conhecer em dezembro de 2007. Na ocasião, uma mesa redonda com Antonio Candido e Boris Schnaiderman, pouco se ouvia daquele senhor sorridente e instrospecto que demonstrava a arte de ouvir com uma elegância palpável no momento em que o mesmo exibia o que acabará de aprender. Aprendi com José Mindlin, naquela tarde, o quanto se pode aprender quando todos esperam tudo de você e você não os dá o que querem. Você recolhe o momento, processa as inquietações alheias e as devolve com a levesa de um mestre. Isso, José Mindlin era um verdadeiro mestre. Talvez os anos em sua biblioteca, os ultimos sem Dona Guita, e aimortalidade da academia o ensinaram o quanto é importante vivermos a mortalidade do tempo. Assim, para mostrar o quanto imortal foi o mestre que se revelou no silêncio, gostaria de reproduzir aqui sua ultima entrevista, que fora publicada na revista Cultura ( edição de Janeiro ) concedida um mês antes de sua despedida. A entrevista de um empresário e bibliófilo que se tornou um mito no universo literário brasileiro.


José Mindlin - A última entrevista

Nascido em São Paulo em 1914, filho de imigrantes russos, José Mindlin ainda menino apaixonou-se pelos livros. Muito jovem, frequentava os sebos do centro de São Paulo e acabou por achar um jeito de comprar os livros sem pedir dinheiro aos pais. “Verifiquei que os livreiros dos sebos não estavam atentos ao que os outros faziam. Alguns vendiam por 5 ou 10 mil réis o que outros vendiam por 20, 30 e até 50 mil réis! Por sua vez, esses vendiam por 5 o que os primeiros vendiam por 30, 40.” Rapidamente, viu ali a chance de incrementar sua biblioteca. “Comprava o livro dos sebos mais baratos e levava para o outro, o dos livros caros, e dizia: ‘Vou deixar em consignação e não quero ver dinheiro. Tire sua comissão e me credite o produto.’” Depois de poucos meses, o garoto tinha crédito em todos os sebos. “Eu comprava sem desembolsar nada”, fala divertindo-se. Assim começa a história do mais respeitado bibliófilo do país. Sua biblioteca tem cerca de 40 mil títulos e a Brasiliana, coleção de livros sobre o Brasil e de literatura brasileira, chega a 25 mil títulos e foi doada à Universidade de São Paulo (USP ) em 2005. Livros, leitura, literatura brasileira e estrangeira, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Marcel Proust, Eça de Queirós e Guita, sua mulher e companheira por quase 70 anos – paixões que florescem em cada frase, em cada gesto, em cada canto da casa e da biblioteca. Na garimpagem, o desafio e a alegria de encontrar o objeto do desejo. Na leitura, o encontro sincero e real com o prazer. Esse é José Mindlin.

Sua história de vida confunde-se com os livros – desde a infância, sempre com eles, com histórias contadas dentro de casa. Como foi o início dessa paixão?
Eu quase poderia dizer que nasci com o livro na mão, porque cresci em um ambiente cultural: meus pais liam, meus irmãos mais velhos também e o ambiente era de amor à leitura. Isso, naturalmente, me contagiou desde cedo. E, quando isso acontece, a pessoa tem de se conformar, porque vai continuar pelo resto da vida. Aliás, é o modo de dizer, porque acho que isso é uma bênção, ter esse gosto pela leitura. Quando falo sobre esse assunto, sempre digo que se trata de paixão incurável. Em geral, as boas paixões são incuráveis. E a leitura nem se discute, é um benefício para a vida.
Na sua casa, com seus irmãos e seus pais, vocês liam entre vocês?
Líamos, sim. Eu lia para mamãe. Devia ter uns 12 anos e estava lendo Júlio Verne e gostando muito. A mamãe teve uma paciência evangélica de ouvir toda a leitura, mas os trechos mais cacetes eu pulava. De modo que, no fundo, foi uma coisa ótima.

O senhor começou muito cedo, com 12 ou 13 anos. Qual foi o primeiro livro raro que comprou?
Aos 13 anos, comprei o primeiro livro raro em sebo. Era uma tradução portuguesa de Discurso sobre a história universal, de Jacques Bossuet, publicada em Coimbra em 1740. Como menino, fiquei fascinado pela antiguidade, depois aprendi que a data de edição é um fator secundário de avaliação. Há muito livro moderno que é mais raro e mais importante do que muito livro do século 16.

Como surgiu a ideia de formar uma biblioteca?
Ela não foi planejada, fui comprando livros de acordo com as leituras que me interessavam. Com certa precocidade, perto dos 12 anos, comecei a ir ao centro, que a gente chamava de “cidade”, e as livrarias se concentravam ali. Eu não tinha uma verba para a compra de livros e, às vezes, aparecia um que me interessava muito e pedia aos meus pais. Eles me facilitavam a compra. Eu tinha certa retaguarda, porque eles viam o meu interesse pela leitura com muito bom gosto. Mas por vezes eu precisava fazer uma ginástica, precisava me entender com os livreiros, estabelecer uma relação com eles que, aliás, me olhavam com simpatia. Eu era um menino de calças curtas! E, assim, começou a se formar a biblioteca. E ela tem uma vantagem, pois não tem fim e eu, com a idade em que estou, 95 anos, posso verificar que isso é uma verdade.

O senhor nasceu em São Paulo, em que bairro?
Nasci no Paraíso e minha mulher também. Infelizmente, eu a perdi em junho de 2007. Não éramos vizinhos, a casa dela era na 13 de maio, mas com saída para a Cincinato Braga, que foi a rua onde nasci. Mas só a conheci muitos anos mais tarde.

Como conheceu sua esposa, Dona Guita?
Eu estava começando o quinto ano da faculdade de direito e, um dia, vi no pátio uma caloura cercada de rapazes cabalando para que entrasse em um dos partidos acadêmicos: o Libertador, o Renovador, partidos de estudantes. Eu olhei pra moça e disse: ‘Olha, tudo isso é bobagem, se você quer um bom partido, está aqui’. E ela me pegou pela palavra e tivemos quase 70 anos de convivência. Eu sou de 1914 e ela era de 1916. Dali estabeleceu-se uma relação que teve, a meu ver, as melhores consequências. Casamos em 1938 e isso durou até a morte dela, 68 anos depois.

Dona Guita foi sua companheira de tantos anos...
Companheira em todos os sentidos, em todas as áreas, desde o namoro até depois do casamento, e a leitura foi um interesse central de nossa vida.

Qual a participação dela na formação da biblioteca?
 Ela lia, assim como eu, constantemente e, além das coisas mais simples, quando se tratava de obras raras, por exemplo, que poderiam comprometer o orçamento doméstico, ela sempre foi uma apologista da aquisição. Me encorajava a fazer extravagâncias que eu hesitava em cometer. Ela estudou encadernação, conservação e restauro de papel e de obras, apesar de que não tínhamos muitos casos de aplicação dessas medidas, porque sempre procurei adquirir obras em bom estado, mas foi realmente uma parceira.

Em sua casa, o senhor lia com sua esposa e seus filhos?
Sim, eu e Guita líamos um para o outro, isso fazia parte da nossa vida. O gostoso é que os filhos também têm essa paixão, cada um a seu modo. O que se lê varia, mas todos gostam muito. Eu sempre acreditei que a leitura fosse uma fonte de prazer e a escolha tem de ser livre. A gente pode, quando muito, orientar, dar certo palpite, mas são eles que têm de desenvolver o próprio gosto. E nós conseguimos.

Todos os filhos gostam também?
Gostam muito. Nós temos quatro filhos, mas, na época em que eram três ainda, as meninas eram as mais velhas e sempre ouviam os elogios pelo interesse que tinham pela leitura. O caçula, que era o menino, enjoou de ouvir tanto elogio para as irmãs e um dia teve uma explosão, dizendo: ‘Eu também gosto de ler, só que eu não sei!’ Foi muito divertido.

Qual é a sensação de encontrar um livro raro, muito desejado?
 O coração bate mais forte. O prazer da garimpagem é muito grande, descrever essa sensação não é fácil, mas dizer isso já dá uma ideia do que representava para mim. A gente procura coisas e, às vezes, vê um livro que a gente não conhecia, mas que desperta interesse. São os dois prazeres que a garimpagem proporciona: encontrar o que a gente procura e despertar interesse por coisas que não eram conhecidas.

Como selecionar esse ou aquele livro?
Diria que tenho um sexto sentido. Eu pego um livro e ele desperta o meu interesse ou não desperta. Em geral, o bom livro sempre desperta o meu interesse. Eu não gosto de ler, até hoje, livros muito difíceis; quando isso acontece, acabo deixando pra mais tarde. Mas há exceções, aqueles que temos de ler, mesmo achando difíceis. O hábito da leitura é tão forte que automaticamente folheio um pouco o livro e já sei se ele vai me interessar. É como o namoro.

Existe uma paixão?
Existe e, às vezes, a gente nem sabe explicar. Uma vez, em Londres, eu queria comprar uma edição de Rabelais [François] do século 16 e o livreiro me mostrou um exemplar de 1558. Eu peguei no livro, olhei, folheei e disse a ele: ‘Posso fazer uma observação?’, ele disse que sim e eu falei: ‘A meu ver, esse livro não é o do século 16 e sim do século 17, antedatado’. E ele perguntou: ‘Mas por que o senhor diz isso?’ Eu disse: ‘Não sei, é uma sensação, o toque, o papel, o tipo’. Fomos ver a biografia de Rabelais e, de fato, era uma edição do século 17 com a data de 1558. Ele não se convenceu de que eu não era especialista em Rabelais. Foi exatamente um caso de sexto sentido. Era muito parecido, não tenho explicação, mas eu sabia. É como ver uma imagem religiosa do século 18 e uma imitação bem feita, moderna. É questão de conhecer, mas sempre tem o sexto sentido.

Quais são os seus livros de cabeceira?
 Tem uma pilha e eu gosto de ler do começo ao fim, mas hoje, com meu problema de visão, tenho dificuldade, alguém precisa ler pra mim, mas quando eu tinha facilidade, fazia isso com muita rapidez, em geral lia uns dois livros por semana, oito ou dez por mês.

O senhor gosta de reler livros?
Acho a releitura uma fonte de prazer real, porque você vê coisas que escaparam na primeira leitura e o livro começa a fazer parte da sua vida.

Quais os livros que mais releu?
 Em matéria de livros brasileiros, as obras de Machado de Assis e Guimarães Rosa, e a obra de Proust [Marcel], da literatura estrangeira.
Qual o livro preferido?
Os livros são muito ciumentos e eu não posso falar em preferências, porque vou ter problemas com eles.

Dos escritores brasileiros, qual o senhor prefere?
Machado de Assis é o topo da literatura brasileira, mas temos a sorte de ter muitos bons escritores. O Erico [Verissimo] é outro, mas são muitos...

Como incentivar o hábito da leitura?
Quem não lê, não sabe o prazer que perde. Hoje em dia, está se fazendo um esforço para disseminar o gosto pela leitura. O ideal é começar em casa, o exemplo dos pais é a melhor orientação. É claro que existem muitos casos em que os pais não leem, então esse papel de estimular a leitura passa a ser da escola. Mas a escola costumava, e ainda costuma em alguns casos, apontar a leitura como uma obrigação. Acho isso um erro. A leitura deve ser apontada, não só como fonte de conhecimento, mas principalmente como fonte de prazer. Eu sempre fui a favor de criar o gosto, e não transmitir a sensação de obrigação, ninguém gosta de fazer nada obrigado.


São atos simples que estimulam o gosto pela leitura?
São, sim. Dentro de casa, os pais lendo para os filhos – minha mãe lia pra mim, depois eu lia pra ela, que tinha uma paciência extraordinária. A coisa é simples. Eu lia muito para os meus filhos e todos têm o gosto pela leitura, começou a fazer parte da natureza deles, como fazia parte da nossa: da minha mulher e da minha.

O que o senhor considera mais inusitado em sua biblioteca, algo que desperta um carinho especial?
Gosto muito de manuscritos, porque você pode acompanhar o processo de criação literária. Muitos são datilografados, mas você tem as correções que o autor fez manualmente. Os originais são difíceis de se ter, de se conseguir, mas, curiosamente, os livros se encaminham para aqueles que têm o real interesse pela leitura. Mas tem muita coisa e aqui também entra a questão do ciúme. Mas dos livros sobre o Brasil, temos as primeiras edições do século 16, dos primeiros viajantes que aqui estiveram. Do período holandês, temos os livros que foram publicados na época. De literatura brasileira, temos várias primeiras edições dos séculos 17 e 19, muitos exemplares autografados e também temos originais de livros da era pré-computador, em que os escritores escreviam a mão ou a máquina e faziam correções a mão e a gente fica conhecendo o processo de criação literária. Temos originais do Guimarães Rosa, do Graciliano Ramos, do José Lins do Rego e do Erico Verissimo.

As Brasilianas foram doadas à Universidade de São Paulo. O que o senhor espera dessa biblioteca?
Ela tem de ser viva! Nós doamos a Brasiliana completa, em torno de 25 mil volumes, mesmo coisas raras e de muita estima, que é mais ou menos metade da biblioteca. Afinal, a gente passa, mas os livros ficam. Fizemos a doação com determinadas condições. A USP está construindo um prédio para receber a biblioteca, que não vai se misturar às outras bibliotecas da universidade, e a ideia é que seja uma biblioteca viva, que cresça, que promova seminários, edições, debates.


O senhor escreveu alguns livros, como Cartas da Biblioteca Guita e José Mindlin (2008), Uma vida entre livros (2008) e No mundo dos livros (2009), entre outros. Como foi passar de leitor a escritor?
 Escritor seria uma forma meio pretensiosa de dizer, mas escrever é muito gostoso. Comecei a ler muito cedo e com 16 estava na redação de O Estado de S. Paulo. Eu era o mais moço, entrei em maio e fiz 16 em setembro. O pessoal da redação via isso com simpatia, todos eram mais velhos e compartilhavam do meu interesse. Hoje, como não consigo ler, passei a escrever, porque isso eu consigo. Foi uma boa solução.

O Vírus do Amor ao livro!!!



FV
(entrevista concedida à Cássia Fragata)
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