Para Dona Malvina 

À mulher mais importante de minha vida. 

Mãe, acho que a senhora já sabe o quanto eu escrevi nessa vida. Sabe que publiquei livros, artigos acadêmicos, posfácios, prefácios, artigos de jornal, manifestos, declarações, inventários e inúmeros documentos. 

Sabe que escrevi poesias, de amor, de saudade, de felicidade. Poesias de protesto, poesias de resignação, de alegrias, de decepção, poesia religiosa, poesia pagã. Poesias para muitos amigos, para os meus irmãos, para desconhecidos, para muitas mulheres. 

Sabe que escrevi cinco livros só com poesias. Algumas boas, outras nem tanto, algumas inspiradas, outras só para cumprir páginas, e outras ainda piores que me foram encomendadas. 

Sabe que eu escrevi diários, desde quando tinha oito anos. Aliás, ainda os escrevo, claro que hoje com menos intensidade que os meus impulsos adolescentes pediam na minha juventude. Escrevi jornais, na escola. Escrevi inúmeras provas, trabalhos, resenhas, resumos, dissertações, explicações, felicitações... Escrevi muitas histórias. Contos, romances, escrevi desenlaces que na vida real jamais resolvi... Quantas canções. 

Foram tantos os motivos que me fizeram e ainda me fazem escrever que nem sei dizer  o que é realmente importante e o que não é, na hora de decidir se deixo ou não escrito. Mas sempre escrevi para as pessoas que me importavam.

Então, a escola em que trabalho atualmente, decidiu que faria um trabalho para o dia das mães e a coordenadora, para quem eu já escrevi muitas mensagens, me pediu que eu orientasse os meus alunos nessa atividade. Bem, passei alguns dias pensando em algum texto motivador para apresentar a eles, como exemplo do que se pode escrever para uma mãe. 

Foi aí que eu me dei conta do erro que cometi, sem nunca ter percebido. 

Escrevi a vida inteira, para tanta gente com quem me importei, para tantas namoradas que nunca mais me olharam, para tantos amigos que já me abandonaram há tanto tempo, para tantos alunos que já se formaram, para tantas línguas que não ouço mais, para tantos ouvidos que se fecharam...Mas para a única pessoa que nunca me abandonou eu jamais escrevi uma única linha. Exceto aquele “amor” que costurei no coração de algodão produzido no trabalho da minha terceira série. Coração esse que eu sei que a senhora ainda guarda, na sua velha caixinha de costura, e que toda vez que espeta uma agulha lê a única palavra que deixei registrada para ti.

Por isso, minha amada e querida mãe, hoje escrevo para dizer que essa será a primeira de muitas cartas que lhe enviarei, porque ninguém nessa vida merece, para mim,  mais palavras de amor, de carinho e de eterna gratidão quanto a senhora.

Por isso encerro esse pequeno relato com alguns curtos versos que teci exclusivamente para ti.

 Mãe querida, mãe amada

De ti, são doces as lembranças

De ti, vem a força que me apoio

De ti, vem a certa esperança

 

Se me movo, se me deito,

Se me ergo, se caminho,

Se existo, se logo penso,

É por ti, por teu carinho.

 

Mãe, termo que entristece o poeta,

por ser a única palavra que não rima,

Mas até nisso, fez-me na vida feliz

Já que a posso substituir por Malvina.

 

Perdoe-me, por tanto demorar

A oferecer homenagem nesses versos.

Agora, como primeiro ato registrado

Meu amor e meus sentimentos eternos.

 

À você rainha, minha ode se amplia

E faço da vida à ti honrarias altivas

Seguindo os ensinamentos que me dera

Em suas horas humanas e divinas.

 

Feliz dia das mães.

 

De seu filho que tanto te ama,

Ari Mascarenhas