Nova introspecção

Depois de um longo dia
De trabalho e dúvidas,
Sem luz por alguns minutos
E chuva por muitas horas...
Vejo-me aqui!

Banco negro e caneta vermelha,
Dispensando o tempo roto
Um sustenta e o outro transpira
Este breve corpo sem ambição.

O silêncio que foge da rotina
Me devolve aos tempos
Que sempre quis abandonar.

Vendo as esculturas de Bretão
Sinto um desejo animal
De escrever um pouco de bagatelas,
Pra poder dizer que esse sou eu...

Cheio de nada e um nada de tudo!
Exercendo a doce arte do ócio,
Que salva meus dedos da necrose
Produto de uma mente em desuso.

(Ari Mascarenhas - 09/06/2015)


Rascunho



Queria escrever um poema direto,
sem rasuras ou resenhas,
rascunhos...
um próprio poema solto,
correndo o risco de desaparecer.
Um simples vírus, uma bomba,
ou ainda, um nada
que "desvirtualizaria" toda a criação,
quanta emoção!
A capacidade de criar sem deixar marcas me instiga.
Provoca em mim uma série de desejos,
impulsos, vontades selvagens...
vontade de despejar meus dedos sobre o teclado
e deixar fluir palavras, imaginadas,
cuja a única marca, que servirá como prova de que um dia existiram, simplesmente desaparecerá...
num espirro, num sussurro, num murro!
E quando tudo se desfizer em morfemas perdidos serei mais completo do que nunca.
Viverei a verdadeira liberdade
ao me livras de toda matéria poética,
quando todas as notas tocarem,
ficando apenas a sensação de que se ouviu um som.
de onde?
cadê?
Os versos se perderam e eu nem sei o porquê!
Minha tensa tentativa de pôr em prática certos pontos,
aqui se fizeram inteiros e consagraram-se em poesia.
Sem rascunhos, sem rasuras, só poesia, solta, pra ser lida e depois...foi...
Quem um dia se lembrará de ter lido isso?

Ari Mascarenhas 02/06/2015