Um breve olhar para os
sentimentos pulsantes dos discentes dos “segundos” médios, de 2013, do colégio
Morumbi Sul.
“Mande trazer com o que
escrever, quando já estiver colocado no lugar mais favorável possível para
concentração do seu espírito sobre si mesmo. Ponha-se no estado mais passivo,
ou receptivo, dos talentos de todos os
outros. A literatura é um dos mais tristes
caminhos que levam a tudo”. Breton –
Manifesto do Surrealismo 1924)
"Um exercício de
escrita automática revela instantes". Essa é a única afirmação racional
que se pode fazer de um texto tão impulsivo e subjetivo como o que propomos
trabalhar. Não se trata de um produto do intelecto, de um objeto enquadrado nas
normas gramaticais e tampouco preocupado com tais regras; trata-se do despertar
anímico, um grito impulsivo de nossos instintos, uma marca do impacto entre o
universo sensitivo e o mundo dos sentidos. Um instantâneo da alma. Um resgate
aos momentos em que o desregramento era nossa maior liberdade, ainda que não
tivéssemos consciência dela. O retorno ao lúdico, ao natural, ao instintivo...
conduzido por palma e dedos desgovernados que cravam no papel letras, rabiscos,
sinais...signos e símbolos.
É mesmo um instante
mágico.
Agora imagine quando
essa magia se manifesta dentro de uma sala de aula, com alunos do segundo ano
médio, durante cinco inesquecíveis minutos, que conseguem expor e registrar os
impulsos apaixonados de corações tão distintos e ávidos por manifestação.
Imaginou? Cinco minutos são trezentos segundos de liberdade que a escrita
automática trouxe a esses jovens, são trezentos segundos em que eles foram
instigados a permitir que suas mãos, cansadas de tantos afazeres acadêmicos,
deslizassem no papel e formatassem naquela folha uma imagem que representasse,
sem a intenção, uma perene viagem para fora de todo e qualquer universo
regrado. Trezentos segundos para que cada um, naquela sala, pudesse derramar em
sua carteira, sem medo da censura moral ou linguística, seus medos, anseios,
desejos, crenças, sonhos, incômodos... Enfim, trezentos segundos sem más-caras.
E aqueles que optaram por continuar com as regras, tinham a liberdade de fazê-las.
Nada é imposto em uma escrita automática. Tudo se sente se experimenta, se
permite. Tudo transcende de dentro do indivíduo. É a prática da antropofagia
modernista.
Meu papel aqui é o de
alinhar no modelo costumeiro, consumível, regrado, parte do universo poético
(antes inimaginável para a maioria) que eles nos permitiram ver, ler e
apreciar. O texto individual de cada escrita automática foi devolvido ao aluno,
pois entendemos que cabe a cada um a decisão de mostrar as particularidades de
sua criação. Portanto, o que veremos aqui, são películas que se projetaram em
minha tela mental com base nos roteiros surreais dos nossos estimados alunos.
Ari Mascarenhas
Onde encontrar: http://livroscostelasfelinas.blogspot.com.br/2014/05/segundos-de-ari-mascarenha.html?spref=bl
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