À Manoel de Barros
Aprender a escrever logo e contar os encantos com os raros
brinquedos que tive.
Juntar as palavras e guarda-las no papel; depois por uma
capa bonita, com desenhos do meu irmão, e descansa-las nesse álbum na estante
de casa.
(...) entre Júlio
Verne e Lewis Carrol, deixar meu livro curtir, como deliciosas batatinhas de
festa de aniversário, que respingam nos dedos e nos palitos atravessados.
Depois de um tempo, ou de muito tempo, folhear suas páginas
amareladas, com uma saudade rubra na face e a certeza de que meus dias mais
felizes ficaram ali.
Que meu quintal encantado, onde vivi minhas primeiras
descobertas, se refaria.
Meu quarto aquecido, onde criei todas as minhas estórias,
repousaria na página dez.
Mas a cada página virada, diante de um tantão de cores e
formas ressuscitadas em meus olhos, pude
ver, no espelho de uma dispersa lágrima de alegria, que o mais importante eu
consegui...
Cresci e não virei poeta, mas jamais deixei de ser criança.
Ari Mascarenhas
*texto lido na abertura do Sarau sem pecado - realizado em Junho no Colégio Morumbi Sul