"Um Deus e seus demônios" - Uma breve leitura de O Evangelho Segundo Jesus Cristo de José Saramago.

Mas entre os
polos, eis que existe o Meio. “Eu sou o
caminho, a verdade e a Vida” – A vida aqui é o meio, a transição, o processo de
mudança, o Grande Milagre que fora criado por capricho e não por necessidade. E
aqui está todo o drama de Jesus ( por vezes do próprio Diabo): Ter conhecimento
do Jogo e se ver completamente impotente para mudá-lo. O romance mostra um Messias, com poder de
curar, fazer milagres, mas não mudar as regras de um jogo insano.
Em “O evangelho
segundo Jesus Cristo”, José Saramago nos fornece instrumentos para refletir
sobre uma perspectiva diferente a respeito do sacrifício cristão e de seus
algozes. E mais, do meu ponto de vista, nos oferece uma coerente justificativa
para a reprodução de uma divindade unificada que, diferentemente daquilo que
nos vendem as igrejas cristãs, concatena-se em si as qualidades e os defeitos
antes bem distribuídos entre as divindades pagãs e até mesmo pertencentes às
sociedades maternas do berço da civilização ocidental. Ao suplicar aos homens
para que perdoe Deus, Jesus Cristo se torna o nosso cordeiro, aquele que
sacrificamos para continuar a crer e seguir o Deus que melhor nos representa,
com as características que nossa civilização, mesmo sem assumir tanto admira:
Autoritário, egocêntrico, Violento, impassível e, principalmente, Vingativo.
Um livro que
vale a pena cada passagem, cada parágrafo, por sua provocação e,
principalmente, pela releitura contextualizada da mais importante de nossa
humanidade nos últimos 2000 anos.